Tuesday, June 19, 2012

Part of the book Meu pé de Laranja Lima, where a boy gets a spanking.

Trecho do livro Meu Pé de Laranja Lima.

Pronto! Lá vinha uma mulher. Trazia uma sombrinha debaixo do braço e uma bolsa pendurada na mão. Dava até para ouvir o barulho do tamanco batendo os saltos na rua.

Corri a me esconder no portão e experimentei o puxador da cobra. Ela obedeceu. Estava perfeita. Então eu me escondi bem escondidinho atrás da sombra da cerca e fiquei com o puxador entre os dedos. O tamanco vinha perto, vinha perto, mais perto ainda e zúquete! Comecei a puxar a linha da cobra. Ela deslizou devagar no meio da rua.

— Socorro! Socorro! Uma cobra, minha gente. Me acudam.

Só que eu não esperava aquilo. A mulher deu um grito tão grande que acordou a rua. Jogou a bolsa e a sombrinha pro alto e apertou a barriga sem deixar de berrar. As portas se abriram e eu soltei tudo, disparei pelo lado da casa, entrei na cozinha. Destampei depressa o cesto de roupa suja e me meti dentro cobrindo o cesto com a tampa. Meu coração batia assustado e continuava ouvindo os gritos da mulher.

— Ai, meu Deus, que eu vou perder o meu filho de seis meses. Aí eu já não fiquei só arrepiado, comecei a tremer. Os vizinhos levaram ela para dentro e os soluços e as queixas continuavam. — Não me agüento, não me agüento. E logo cobra que eu tenho pavor.

— Tome um pouco de água de flor de laranjeira. Acalma. Fique calma porque os homens foram atrás da cobra com pedaços de pau, machado e um lampião para alumiar.

Que confusão danada por causa de uma cobrinha de pano! Mas o pior é que o povo lá de casa também tinha ido espiar. Jandira, Mamãe e Lalá.

— Mas não é cobra, minha gente. É uma meia velha de mulher. No meu medo esqueci de retirar a “cobra”. Estava frito. Atrás da cobra tinha a linha e a linha vinha de dentro do quintal. Três vozes conhecidas falaram ao mesmo tempo: — Foi ele! A caçada agora não era da cobra. Olharam debaixo das camas. Nada.

Passaram perto de mim, e eu nem respirava. Foram do lado de fora espiar na casinha.

Jandira teve uma idéia. — Eu acho que já sei! Levantou a tampa do cesto e eu fui erguido pelas orelhas até a sala de jantar. Mamãe me bateu duro dessa vez. O chinelo cantou e eu tive mesmo que berrar para diminuir a dor e ela parar de me bater.

— Pestezinha! Você não sabe como é duro carregar um filho de seis meses na barriga.

Lalá comentou irônica: — Estava demorando muito ele estrear a rua!

— Agora, para a cama, seu danado. Saí coçando a bunda e me deitei de bruços. Sorte foi Papai ter ido jogar manilha. Fiquei no escuro engolindo o resto do choro e achando que acama era a coisa melhor para sarar uma surra.

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